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sábado, janeiro 31, 2004


Edward Hopper, 1952 - "Morning sun"

Sobes as escadas devagar. Pé ante pé, com cuidado para não fazer
Barulho. Sobes e pareces cansado. Dores nas costas, nos músculos, na espinha, no coração. Mas mesmo assim não paras. Devagar, sem pressas vais continuando a subir, degrau a degrau. Patamar a patamar.

Eu espero-te lá em cima. Espero-te receosa, confesso. Espero-te.
Sei que vens, apesar das tuas tentativas frustadas para não te fazeres ouvir. Mas eu ouço-te ... e ouço-te tão bem ... mesmo ainda no 1º, no 2º, no 3º andar, já te sinto como se estivesses perto de mim, a bater, a tocar, a abrir, a acariciar a porta que já está neste momento só entreaberta.

Continuas a tua jornada e apesar de parecer estranho, sinto-me tão cansada como tu. Suo o teu suor, suspiro o teu suspiro, meu coração bate
apressado junto com o teu. Tacteio contigo o corrimão que te irá levar até mim. Sinto o frio da pedra do chão. Cheiro o perfume dos teus passos, ouço-te a chamar por mim. Mesmo que sem voz ...

E eu espreito-te quieta. Tenho medo que me vejas antes do tempo,
Que percebas que já te espero. Tenho vergonha que apanhes no ar o que ainda é para estar escondido , disfarçado, camuflado atrás da porta que me protege. E o tempo parece não passar ...

Sobes as escadas devagar. Mas estás cada vez mais perto de mim.
Já sinto agora as tuas mãos, a tua pele, o teu sabor. Já vejo os teus olhos nos meus, já respiro o mesmo ar que trazes em ti. Este, que já está quase cá em cima ...

A porta abre-se mais. Abro-a eu, para te receber. Perdi a vergonha,
Perdi a paciência. Já não quero esperar mais. É então ai que te chamo e tu sobes mais depressa. Sobes e olhas para mim, com uns olhos que nunca vi. E eu conheço-te então. A cor da alma, a textura do espírito...Vejo-te os sonhos, conheço-te os temores e desamores.

Já mais corajosa, convido-te a entrar. Apesar da caminhada, da subida e da chegada, hesitas sem falar. Mas ao tocares na porta que te esperava entreaberta esqueces o cansaço, a dor, a incerteza que te atacara na subida. Entras, entras e descansas. Por uns instantes. Descansas comigo, que também preciso. Em mim, porque to pedi.

E lá em cima, por detrás daquela porta encontras o que procuravas.
E lá em cima, por detrás daquela porta eu recebo o que ansiava. E ambos respiramos fundo e adormecemos abraçados, esquecendo o que nos espera lá em baixo das escadas.

sexta-feira, janeiro 30, 2004

Post Date: Sex Jan 30, 05:08:41 AM

Tinha 14 anos. 14 anos e um namorado chamado João. Mas...uau!! O João já tinha 16. 16 e carta de mota... e a própria mota. E dois capacetes. O que lhe tinha custado mais caro, que era branco e vermelho e um outro, que lhe tinha sido dado por um primo mais velho e que era também velho como ele e que ficava muito largo na cabeça tonta e apaixonada da nossa Ana Lúcia, assim é o nome da menina da nossa estória. Mas a Ana Lúcia, assim era o seu nome, já o disse, adorava aquele capacete. E aquela mota. E especialmente aquele João. Que tinha 16 anos, uma mota e dois capacetes e a levava a passear no intervalo de 20 ou quando se baldavam às aulas.

A Ana Lúcia raramente o queria fazer, até porque tinha um medo aterrador de acabar a vida sendo caixa de supermercado... e para que tal não acontecesse, tinha muito que estudar e muito onde se aplicar. "Livros, concentração, números e muita atenção...", senão lá acabaria ela a discutir com senhoras idosas os cêntimos a mais ou a menos do quilo do grão de bico, que era a promoção da semana. A Ana Lúcia tinha, como já disse, um medo de morte de não vir a singrar na vida e já agora por falar em morte...tinha sido o seu já falecido pai, o sr. Carlos Augusto, carteiro de profissão, que a tinha, desde pequena alertado para esta realidade: " Livros, concentração, números e muita atenção...", senão lá seria ela, coitada, a tal caixa de supermercado, ou pior: de mercearia ou estação de serviço.

Bem, mas dizia eu,que era raro a Ana Lúcia faltar às aulas, ou pelo menos era, antes de se ter decidido a apaixonar e a ocupar quase todo o seu tempo a pensar, namorar, visitar, beijar ou passear com o seu dito namorado. O da mota. O de nome João. "Aprendi finalmente a viver!!", dizia do alto do seu metro e setenta. Que alta que era a Ana Lúcia para a idade...Tinha já pensado em ser modelo, mas a mãe achava que era cedo. E ela, apesar de tudo, também. "Aprendi finalmente a viver!!"- era isso que acreditava ter acontecido, agora que tinha encontrado aquilo que pensava ser o verdadeiro amor. Um amor de nome João. De 16 anos. Com carta de mota. A mota própria e dois capacetes...

Pois, mas a verdade é que nem mesmo a Ana Lúcia o conhecia assim tão bem...mas para ela chegava. Era ao amor da sua vida! E estava decidido. Chegava para já, o sentimento inegualável de saber que todas as raparigas da escola a invejavam por ter virado uma autêntica rebelde apaixonada, por faltar às aulas e ter um namorado mais velho...O João. De 16 anos. Carta de ...bem, já chega, aquele João de que já vos falei. O que interessa reter é que era o melhor, o maior amor do mundo. O que todos, aliás, todas desejavam!!

Dizia eu, que na verdade, A Ana Lúcia não sabia bem quem era o João, apesar de ser com ele que sonhava ter 4 filhos, 1 cão d'água, uma casa com quintal e lougradouro e, claro.. uma mota e dois capacetes para passearem ao fim de semana pelo trilho da ponte, de um lado ao outro da cidade...Nem sabia ela, que ele tinha fobia às alturas e que tentava evitar ao máximo os caminhos, estradas ou destinos que percorriam as tais pontes de que Ana Lúcia tanto gostava. Mas sonhos, são sonhos, não é?

Pois, e assim era. Mesmo sem falarem, Ana lúcia e João, de 16 anos e carta de mota, faltavam às aulas para passear, de corpo e alma ao vento e fazer planos de futuro. Era mesmo isso que ela fazia, sabem?! Sentada por detrás do corpo morno do seu João, a 120 pela via rápida, pensava nas bonitas e confortáveis palavras que lhes seriam dedicadas para sempre pelo seu amado e que a iriam derreter de tanta ternura... Pobre Ana Lúcia. Ela que nem sabia, ainda, afinal o apelido do João. O João da mota, que não era João Mota, mas sim João Prazeres. E que Prazeres...

Um desses dias, em que a Primavera decide arrebitar vontades e aquecer intenções, lá faltaram eles a duas horas de educação visual. Ah, é verdade a Ana Lúcia sonhava em vir a ser pintora...Continuando; desenharam então caminho até ao parque e foi aí, que com uma mão dada e outra tapando os gemidos de dor de Ana Lúcia, o João, o João da mota, o Prazeres, a seu bel prazer lhe fez um filho, à revelia...

Tinha 14 anos. E um namorado. Que deixou de o ser, porque quando Ana Lúcia lhe deixou escapar, encantada e barriguda,o seu desejo de dedicar a alma e a arte às telas e aos pincéis, o João gritou muito alto e disse zangado que não queria uma mulher assim e que mais valia que ela virasse caixa de supermercado!!



domingo, janeiro 25, 2004

Assim  

Assim é a palavra que melhor define como eu me sinto. Porque a forma com o sinto é simplesmente Assim. É esta, e por mais que o tente explicar por palavras, só eu sei o que Assim quer dizer.

E isto é Assim ...

Porque Assim o é, sem mais nem menos. Porque o meu Assim é, diferente dos outros. É único, é pessoal e intransmissível. É assim que eu me sinto no meu peito, no meu coração e é assim que o sei definir através da indefinição.

Assim torna-se uma Palavra Grande, grande em significado, grande em número de batidas cardíacas, grande em importância e sensações.

Assim me encho de amor, de saudade, de medo ou de tristeza. Assim combato o que não gosto, o que me apoquenta, o que me incomoda. Assim, como só eu o sei fazer, e por vezes nem sequer o faço como deve de ser.

Assim vai passando a vida, como só eu a sei. Assim vejo o mundo inteiro e o cheiro à minha maneira. Assim assisto ao que quero e ao que não quero.
Assim, deixa de ser palavra. Passa a frase, expressão texto ou livro inteiro. Passa a filosofia de vida, A comando do meu ser. É Assim que exorcizo fantasmas e é Assim que arranjo forças para lutar. Todos os dias.
É Assim que me tenho a mim própria. Desta forma que mais ninguém sabe ou conhece.

Pois... É Assim ! ...





quinta-feira, janeiro 22, 2004

Se me quiserem dizer Olá....
tambemqueroum@hotmail.com
Também quero um. Quero pois e quero muito. Toda a gente que é gente, no nosso país e mesmo os que só aspiram a ser, têm um. Por isso, porque não haveria eu de ter também? Sou bem mais gente do que muita dessa gente. Além do mais, preciso de rotina na minha vida desnorteada. Preciso de saber, que agora que tenho um, tenho que o tratar bem. Juro, que não vai ser como o tamagochi que morreu logo na 1ª semana de vida. Ele também era pequeno...e este vai ser grandeee. Vai-se tornar, pelo menos.
Preciso de seriedade nuns dias e noutros de palermice. E como, às vezes as pessoas com que me dou não percebem isso ( talvez só aquelas que também têm um, assim camuflado, possuam esse tal entendimento), o melhor é mesmo, ter um destes, onde descarregar para mim para para o mundo inteiro o que me apetece partilhar. Pois, porque "como a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha", também a minha pobre galinhita vai provocar alguma coscuvelhice. Acho... Nem que seja a de um galinhote velho e mal encarado. Unzito..ou dois. Sei lá.
Só sei, que decidi hoje, que precisava de um destes. Para criar regras, calos nos dedos, ginasticar o meu neurónio patrão e, quiçá, poder dizer um dia que até preciso de óculos por ter a vista cansada de tanto estar ao computador.É o meu sonho!!
Também queria um e cá está ele. Tão bonito, azulinho. Tão limpinho e arejado. Gosto mesmo dele e ainda nem sequer nos conhecemos como deve de ser. Mas ainda vamos a tempo. Até pode ser que venhamos a ter uma relação mais séria. Só o tempo o dirá. O 1º passo está tomado. Até amanhã!

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